Engana-se quem imagina que a política internacional é diferente de qualquer outra. Não raro, ela resvala também para a baixaria, sem que alguns dos homens mais importantes do mundo preservem as informações e também a ética nas relações entre os países. Por esta razão, prevalece entre os estadistas o ditado segundo o qual “só guarda segredos quem não os conhece”. Não é por acaso que alguns governantes têm se empenhado para que os seus segredos sejam vulneráveis, principalmente quando se trata de temas guardados sob sete chaves.
Nem assim se pode ter a certeza de que as informações possam acabar vazando, causando sérios problemas, inclusive produzindo um cenário de incompatibilidade entre governos. O jogo da espionagem internacional vai muito além do que mostrava a ficção dos filmes produzidos no auge da Guerra Fria. Agora, na vida real, o jogo é pesado, e as informações não têm prazo de validade com o carimbo da verdade. Os países não podem ser considerados imunes, desde as nações mais poderosas e até mesmo as emergentes.
A vulnerabilidade dos segredos de Estado tem a validade de um palito de fósforo, como demonstrou a WikiLeaks (cablegate.wikileaks.org/), uma organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica, em seu site, posts de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre temas muitas vezes polêmicos e embaraçosos. A organização implantou um estresse em alguns gabinetes do Palácio do Itamaraty ao tornar públicos alguns constrangimentos para a diplomacia brasileira, cujos assuntos envolvem, inclusive, alguns nomes importantes do governo, como, por exemplo, do ministro da Defesa, Nelson Jobim, com a desenvoltura que demonstraria na embaixada dos Estados Unidos.
Tanto desembaraço com o então embaixador americano Clifford Sobel teria levado Jobim a ser considerado por ele, na avaliação, “talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil”. Ou seja, já estava conquistando a confiança do representante da Casa Branca, o que não acontecia com o chanceler Celso Amorim, que o representante de George W. Bush via como um diplomata com “inclinação antinorte-americana”. A julgar por alguns telegramas que Clifford Sobel enviou para Washington, o ministro da Defesa causou mais estragos. Em uma das mensagens, é citado o então secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, cujo texto afirma o seguinte: “Jobim disse que Guimarães ‘odeia os EUA’ e trabalha para criar problemas na relação”. Ou seja, estaria dificultando para que o Brasil e os Estados Unidos mantivessem uma boa relação.
Mantendo um relacionamento amistoso com Nelson Jobim, o embaixador americano teria obtido informações importantes até além das fronteiras do Brasil, como, por exemplo, que Evo Morales, o presidente da Bolívia, estava com um grave problema de saúde, em janeiro de 2009, que seria um tumor na área do septo nasal. Em uma mensagem transmitida no dia 22 de janeiro de 2009, o embaixador americano informou à Casa Branca a notícia sobre a enfermidade de Evo Morales.
O que se constata é que, desde a primeira eleição de Lula, a Casa Branca começou a recear dificuldades na diplomacia com o Brasil, o que trouxe um recrudescimento nas relações entre os dois países, principalmente depois que se intensificou a intimidade do petista com o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, e os ditadores de Cuba, Fidel e Raúl Castro. Clifford Sobel, em um comunicado transmitido para Washington, no dia 21 de março de 2008, manifestava seu receio quanto às relações diplomáticas: “Embora existam boas perspectivas para melhorar nossa relação na área de defesa com o Brasil, a obstrução do Itamaraty continuará [a ser] um problema”.
Como se isso não bastasse, de acordo com o registro do embaixador americano, o ministro Nelson Jobim teria comentado com Clifford Sobel que a Venezuela, sob o comando do coronel Hugo Chávez, poderia, na sua expressão, “exportar instabilidade”. Se isso acontecesse, o continente poderia se tornar um barril de pólvora com o estopim aceso, o que não seria difícil porque, naquela época, o presidente venezuelano estava com sua popularidade em alta, mas, depois, pelo seu estilo radical, começou a perder apoio da população.
De acordo com o site WikiLeaks, bebendo da fonte diplomática americana, o ministro da Defesa brasileiro, que embarcaria logo depois para Washington, falou que o governo do Brasil estimulava a manutenção de um Conselho de Defesa da América do Sul, cujo objetivo principal seria evitar Hugo Chávez, como consequência do seu isolamento no Palácio de Miraflores, levando-o a partir para uma corrida armamentista, com o surgimento de um circo de instabilidade no continente.
A impressão que se tem é que o embaixador americano e Nelson Jobim conversavam mesmo com muita frequência. Uma constatação disso é que, alguns dias antes da transmissão dessa mensagem, no dia 20 de fevereiro de 2008, Sobel comentava para seus superiores em Washington: “Ao mesmo tempo em que a sugestão tenha pouca praticidade, segue a tradicional política brasileira de tentar ser amigo de todo mundo, ao tentar incorporar a ideia de Chávez de cooperação regional de defesa a uma suposta estratégia de contenção da Venezuela”.
Os telegramas também atingiram o presidente Lula logo no começo de 2009. Na época, a embaixada americana em Brasília criticava a lançada Estratégia Nacional de Defesa pelo presidente Lula. Clifford Sobel questionou se as Forças Armadas brasileiras agiriam na proteção do mar territorial do país diante da descoberta das reservas de petróleo da camada do Pré-Sal. Neste telegrama, a curiosidade americana ficava bem clara: “Não há [informações] sobre as possíveis ameaças a áreas de reserva de petróleo e de que a Marinha terá de responder contra-atacando, tornando difícil, por exemplo, avaliar a declaração contida na estratégia de que um submarino nuclear será necessário para proteger essas instalações”.
Na manhã da quinta-feira, o presidente Lula falou sobre os 2.500 telegramas diplomáticos vazados pela organização WikiLeaks e mencionados pelo jornal Folha de S. Paulo. Lula, que fez pouco caso dos documentos, registrou que o governo americano tinha cometido uma “bobagem” e que seus representantes não eram superiores aos outros governantes. Bem no seu estilo, em entrevista coletiva para emissoras de rádio comunitárias, em seu gabinete, no Palácio do Planalto, ele declarou: “Você vê o que está acontecendo agora com esses telegramas do governo americano (...). Estão desnudando uma sabedoria de que os americanos são melhores do que os outros. [Eles] fazem bobagens que todo mundo faz”.
Nelson Jobim optou por negar, avaliando a notícia como “interpretação” do então embaixador americano. Ao mesmo tempo, o presidente Lula reagiu bem no seu estilo, considerando as informações simplesmente “insignificantes”. Segundo ele afirmou: “De vez em quando, aparecem essas coisas. Eu acho que coisas que eu vi do Brasil são tão insignificantes que não merecem ser levadas a sério”. Com ênfase, ele acrescentou: “Não sou obrigado a acreditar num telegrama de um embaixador americano em vez de acreditar no meu ministro, ora! Por que eu tenho que acreditar no americano, que já nem é mais embaixador aqui?”.
O ministro da Defesa também se manifestou por nota encaminhada à imprensa, na qual informava que tinha conversado com Samuel Pinheiro Guimarães, atualmente no cargo de ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Jobim afirmou que o colega americano o interpretou errado. “Se o embaixador disse que Samuel não gosta dos EUA, isso é interpretação do embaixador, não disse isso. Samuel é meu amigo”.
Contrariando o site, na terça-feira passada, o governo da Bolívia se apressou em negar que o presidente Evo Morales estivesse com um tumor. Em nota oficial, o governo boliviano ressaltou que ele na verdade sofreu uma intervenção cirúrgica por causa de um problema no septo nasal, que fazia o seu nariz escorrer.
O jornal Folha de S. Paulo detalhou um telegrama confidencial, datado em 24 de dezembro do ano passado, emitido pela ministra conselheira Lisa Kubiske, da embaixada dos EUA em Brasília. Na mensagem, ela mencionava que o governo brasileiro teria demonstrado “grande abertura em áreas como o compartilhamento de informações e cooperação com o governo americano a ponto de admitir a possibilidade de ataques terroristas” durante a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.
Lisa Kubiske acrescentava no telegrama as grandes oportunidades comerciais e de aproximação estratégica com o Brasil durante eventos esportivos globais, como a Copa de 2014 e a Olimpíada. Ela ainda citou, inclusive, a diplomata brasileira Vera Alvarez, chefe da Coordenação-Geral de Intercâmbio e Cooperação Esportiva do Itamaraty, abordando a possibilidade de um ato de terrorismo no país. A declaração causou estranheza por ser pouco usual de um governo que oficialmente acredita que não existia terrorismo no Brasil.
A denúncia pública tomou o contorno de um escândalo de baixo nível, o que não se esperava nem mesmo em um folhetim eletrônico. Tudo porque o site revelou ainda que a Casa Branca acompanhava todos os detalhes da relação diplomática que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, mantinha com o seu colega brasileiro. No dia 17 de novembro do ano passado, por exemplo, o embaixador americano em Paris, Charles Rivkin, manifestou contrariedade em relação a essa aproximação entre os dois presidentes e escreveu: “França e Brasil – início de um caso de amor”. Ele chegou a ponto de afirmar que o presidente francês usa a sua esposa, a ex-modelo Carla Bruni, com o objetivo de fazer os brasileiros se aproximarem: “Julgamos que Sarkozy tira total proveito da popularidade individual de Carla Bruni e de sua popularidade como casal para avançar nos interesses nacionais da França”.
O embaixador Charles Rivkin resvala para o mexerico ao acompanhar quantos encontros Lula e Sarkozy tiveram (nada menos do que nove em apenas dois anos), ao mesmo tempo em que se desdobrava para delinear o perfil da personalidade do brasileiro, concluindo que é “tão parecida com a de Sarkozy que diplomatas brasileiros comentam que, quando [Lula] olha para Sarkozy, é como se ele estivesse olhando a si mesmo no espelho”.
Se, realmente, os documentos são autênticos, a diplomacia passou a ser uma vulgar investigação.
Pelo sim, pelo não, na quarta-feira passada, o governo americano, por in-termédio da Comissão de Segurança Nacional do
Senado, pressionou a Amazon para retirar da rede os servidores do WikiLeaks, que ficaram inoperantes durante cinco horas, mas depois o si-te voltou ao ar graças a um servidor europeu. O fundador do site, Julian Assange, a pedido da corte sueca e da Interpol, passou a constar na lista dos mais procurados, acusado de crimes sexuais e coerção ilegal.
Um processo de intimidação ao site, pelo jeito, não irá surtir efeito. Isso foi o que deixou bem claro, na quinta-feira, o advogado britânico Mark Stephens, que também está defendendo Julian Assange e, para começar, assegurou que o website WikiLeaks continuará a funcionar como sempre fez em outras situações como essa. Por tal razão, Mark Stephens, cujo cliente está foragido, afirmou que o site permanecerá publicando documentos secretos norte-americanos até que todos sejam divulgados. O advogado declarou, em entrevista transmitida pelo site de notícias italiano “Affaritaliani”, que a polícia e os investigadores conseguiram estabelecer contatos com ele. Afirmou, ainda, que os serviços de segurança de incontáveis países, como os Estados Unidos e o Reino Unido, têm informações de onde Julian Assange se encontra.
O advogado até acrescentou que muitos países já se ofereceram para dar asilo político ao fundador do WikiLeaks, mas ele simplesmente não tem o menor interesse em se mexer para qualquer lugar neste momento. Stephens também revelou que não tem a menor ideia do que seu cliente pretende fazer nos próximos dias.
Ele ainda mencionou que o site italiano “Affaritaliani” exibiu uma entrevista do chanceler Franco Frattini e que o diplomata defende com convicção que é preciso entender quem está por trás de Julian Assange. Para o advogado, se o ministro das Relações Exteriores afirma que existe alguém por trás dele, não está errado, “se pensarmos que o WikiLeaks é um grupo de milhares de pessoas que formam uma comunidade virtual difundida no mundo todo”, que responde às questões da opinião pública “e não tem nada a ver com os interesses de qualquer país”, sugerindo que tal rede sobreviveria também sem Julian Assange.
Pelo jeito, esta guerra está longe de terminar.
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Diariamente, a população cobra soluções para o caos no transporte, para as escolas superlotadas e sem estrutura, para a falta d’água e também para os buracos que tomam conta das ruas.
Sobre esse último problema, o prefeito prometeu durante a campanha eleitoral tampar os buracos das vias em no máximo 180 dias, por meio do plano emergencial de tapa-buracos. Pena que foi uma promessa não cumprida.
No ano passado, a Prefeitura contratou uma empresa chamada Emparsanco por R$ 69 milhões, que teve acréscimo no pagamento de mais R$ 17 milhões, totalizando R$ 87 milhões, para consertar ruas dos bairros Santa Inês, João Paulo II, Coroado, Ouro Verde, Zumbi e Novo Israel.
Tomamos conhecimento que havia irregularidades nessa contratação. Por meio da Câmara, pedi informações sobre esse contrato, porém, foi negado pelos vereadores. Por isso, solicitei do Tribunal de Contas do Estado que se fizesse auditoria nessas obras emergenciais, bem como nos pagamentos realizados.
E esta semana recebi o relatório técnico de vistoria do TCE, que demonstrou uma lista enorme de irregularidades com relação à execução dessas obras: não havia projeto, cronogramas, locais beneficiados e faltavam até comprovantes de pagamentos pelos serviços executados. O relatório conclui que foi pago indevidamente para essa empresa R$ 87 milhões.
Na próxima segunda, estarei ingressando com Ação Popular na Justiça, juntamente com o deputado Praciano, contra a Emparsanco e a Prefeitura, por conta de todas essas irregularidades. Também estarei ingressando com representação no Ministério Público Federal, junto com o vereador Marcelo Ramos, por ter verbas federais envolvidas.
Isso é caso de polícia! É dinheiro público que deveria ter sido investido nas creches, nas escolas e no transporte. Estou fazendo a minha parte, denunciando e cobrando providências das autoridades competentes.
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Diariamente, a população cobra soluções para o caos no transporte, para as escolas superlotadas e sem estrutura, para a falta d’água e também para os buracos que tomam conta das ruas.
Sobre esse último problema, o prefeito prometeu durante a campanha eleitoral tampar os buracos das vias em no máximo 180 dias, por meio do plano emergencial de tapa-buracos. Pena que foi uma promessa não cumprida.
No ano passado, a Prefeitura contratou uma empresa chamada Emparsanco por R$ 69 milhões, que teve acréscimo no pagamento de mais R$ 17 milhões, totalizando R$ 87 milhões, para consertar ruas dos bairros Santa Inês, João Paulo II, Coroado, Ouro Verde, Zumbi e Novo Israel.
Tomamos conhecimento que havia irregularidades nessa contratação. Por meio da Câmara, pedi informações sobre esse contrato, porém, foi negado pelos vereadores. Por isso, solicitei do Tribunal de Contas do Estado que se fizesse auditoria nessas obras emergenciais, bem como nos pagamentos realizados.
E esta semana recebi o relatório técnico de vistoria do TCE, que demonstrou uma lista enorme de irregularidades com relação à execução dessas obras: não havia projeto, cronogramas, locais beneficiados e faltavam até comprovantes de pagamentos pelos serviços executados. O relatório conclui que foi pago indevidamente para essa empresa R$ 87 milhões.
Na próxima segunda, estarei ingressando com Ação Popular na Justiça, juntamente com o deputado Praciano, contra a Emparsanco e a Prefeitura, por conta de todas essas irregularidades. Também estarei ingressando com representação no Ministério Público Federal, junto com o vereador Marcelo Ramos, por ter verbas federais envolvidas.
Isso é caso de polícia! É dinheiro público que deveria ter sido investido nas creches, nas escolas e no transporte. Estou fazendo a minha parte, denunciando e cobrando providências das autoridades competentes.